quinta-feira, 29 de abril de 2010

Era um sonho....

...como vários em que eu havia estado. Meu passado voltando para me assombrar, durante mais uma noite.....

"Era uma tarde chuvosa e quente. Minha munição estava acabando, ao meu redor jaziam inimigos e companheiros. Mortos ou agonizantes. Eu estava cercado e atirava nos mais próximos, evitando desperdiçar munição. Ouvi o clique seco da arma quando a munição acabou, ao meu redor ecoavam gritos de dor e ódio. Sem mesmo pensar, saquei minha pistola. Seriam apenas seis tiros e tudo estaria acabado. Um impacto nas costas trouxe dor e a sensação de umidade para dentro do meu traje de combate, eu havia sido atingido. Me virei e atirei (um reflexo automático, diversas vezes treinado). A munição se esgotou, minhas forças estavam no fim, eu poderia me render mas o ódio começava a me dominar. Ainda sem raciocinar claramente eu saquei um enorme facão de sua bainha em minhas costas e uma faca recurva de outra bainha em meu ombro direito. Parti para o combate corpo-a-corpo, eu golpeava, estocava e perfurava. Ao mesmo tempo, senti outros impactos percorrerem meu corpo; alguns perfuravam a blindagem do traje, outros não. A carnificina havia terminado, eu estava só. Estava morrendo, eu sabia. Subitamente um clarão e um estrondo me arremessaram contra o chão, eu havia sido atingido por um morteiro. Me arrastei e me apoiei contra a parede, olhei para o céu cinzento, a chuva caía em meu capacete mas, o visor impedia que ela molhasse meu rosto. Baixei meus olhos e para o meu espanto eu estava cercado novamente, mas não por inimigos, todos aqueles que haviam lutado ao meu lado estavam lá, mesmo aqueles que já haviam morrido. E não só eles, mas haviam várias pessoas que eram parte do meu passado, pessoas a quem eu havia amado, pessoas que eram importantes na minha vida. Todos olhavam para mim: a garota grega que havia me trazido de volta à felicidade, o amigo que esteve ao meu lado mesmo quando eu estive errado, a garota ruiva que havia lutado ao meu lado durante anos a fio e uma outra pessoa também, uma garota de cabelos negros e pele branca, cujos olhos faziam com que eu perdesse o medo de ser feliz.
Foi ela que saiu do meio da multidão, estranhamente a chuva não molhava essa pessoa. Ilusão talvez? Alucinação, concerteza mas mesmo assim não menos agradável e bem vinda. Ela se ajoelhou ao meu lado, retirou meu capacete e me olhou nos olhos. Eu me inclinei para trás, afim de receber a chuva diretamente. Era fria. Mas as mãos quentes dela me tocaram o rosto, trazendo de novo meus olhos ao nível dos dela, ela me beijou os olhos e delicadamente pousou seus lábios no meu rosto, dizendo:
"Acabou, você está seguro agora. Eu estou aqui com você"

Vagarosamente, eu escorreguei para a vastidão da morte, ainda com aquelas palavras ecoando em meus ouvidos:
"Acabou, você está seguro agora. Eu estou aqui com você..."

E essa era toda a verdade que havia no mundo...

Uma tarde

Poderia ser uma tarde qualquer, mas não era...
Você estava deitada em meus braços, imóvel e olhávamos um para o outro...
Estranhamente, minhas preocupações e problemas pareciam distantes. O passado, naquele momento, era realmente passado. O futuro não existia. Existia apenas a imensidão daqueles olhos castanhos, grandes e profundos. Você me disse que tinha medo de nutrir esperanças maiores do que realmente elas poderiam ser, tinha medo também de me magoar ou de não poder dar a felicidade que me foi tirada inúmeras vezes. Eu toquei delicadamente em seus lábios, silenciando-a, e pensei em dizer:
"Talvez, eu não precise de toda a felicidade que me foi negada, a felicidade que você me proporciona já é suficiente. Talvez as esperanças que você teme nutrir, sejam as esperanças de um futuro que pode nem vir a acontecer pois, a única esperança que eu tenho é a de te ver novamente no dia seguinte e o medo que você tenha de me magoar, só prova o quanto o nosso sentimento é verdadeiro e que tudo o que queremos seja a companhia um do outro"